terça-feira, 20 de março de 2007

Três quatro oito quatro dois quatro dois oito.

Um.
Cinco.
Espera espera espera espera.
"Aqui é o Virgílio."
"Um minutinho senhor..."
Três.
Conta corrente? Pó pí pó pó pó pí pé.
Senha de acesso? Pí pó pó pí pé.
Espera espera espera espera.
"Aqui é o Virgílio."
"Um minutinho senhor..."
Espera espera.
"Vou estar transferindo..."
Espera.
"Boa tarde, senhor. Como vai sua família?"
Dois.
"Olá Virgílio, que nome interessante! O senhor almoçou direitinho hoje?"
Três.
"Em que posso ajudar?"
"Esqueci. Boa tarde!"

segunda-feira, 5 de março de 2007

Uma ópera e uma palavra...

Demorei muito tempo pra assistir a uma ópera em casa. Em casa, sentado no sofá, com o controle na mão. Nada de teatro...
Demorei duas vezes. A primeira durou algumas décadas. Talvez por falta de interesse, talvez por (felizmente) ser de uma família embalada por óperas, boas músicas e muita cultura; pais únicos que possuo. Era natural amigos meus irem à minha casa atrás de meus pais, enquanto eu jogava videogame. Acho também natural o desinteresse dos filhos pelos gostos dos pais, até uma certa idade. Por isso a relação entre existir a cultura de ópera nos pais e não nos filhos.
A segunda demora, e sem dúvida muito mais relevante, justificável e marcante, foi mais recente. Comecei a assistir "La Bohème", no fim do ano passado. Fiquei viciado em cada minuto, em cada ária, em cada "Dó de Peito", como me ensinou meu pai. Absorvi cada informação que minha mãe passava, quando vinha com aquele jeito dócil, interromper minha primeira Ópera (e eu voltava dez minutos, torcendo por mais uma interrupção).
E então começa a ária mais marcante - tanto que, caso existisse algum curso de Ópera I em alguma faculdade, tal curso deveria ser por ela baseado -, "Che Gelida Manina". Acho que chorei instantaneamente. Soluçava e sentia o sal na boca. E a vontade de terminar a Ópera sumiu... "La Bohème" pra mim era "Che Gelida Manina". E ainda é.
Passados alguns meses, voltei ao Rodolfo. E consegui assistir inteira. Claro, revendo muitas vezes a ária que, dificilmente, para mim, deixará de ser a melhor da história da Ópera - pelo menos da minha história da Ópera, que é recente, mas promissora.
Terminei de assisti-la completamente perdido, desnorteado, alucinado por tanta beleza, tanto sentimento.
"Impossível descrevê-la. Não existem palavras capazes de fazê-lo", pensei. Mas talvez exista uma. Um único verbete que, paradoxalmente, descreva fielmente "La Bohème": inefável.
Coincidentemente esta é uma palavra que, talvez pelo pouco uso, eu demorei muito tempo para aprender.

"Che Gelida Manina", com José Carreras

quinta-feira, 1 de março de 2007

Blog é coisa de imbecil

Nunca me achei um imbecil.
Agora que mudei de idéia quanto a isso - e visitei alguns blogs muito interessantes, como o do Half, o do Roberts e o do Reinaldo Azevedo - decidi criar um pra ter a chance de salvar algumas coisas que invadem minha cabeça (já que estou muito cansado pra pegar um papel e um lápis).
Na verdade já anotei alguns poemas (sempre bufólicos, graças a Hilst) em extratos, boletos e afins, que acabaram se perdendo junto com a data de vencimento.
Fica aqui minha tentativa de iniciar um blog.
Ficam aqui também um abraço - repleto de calor - e beijos aos pés do ouvido dos meus grandes amigos. Inesquecíveis e marcantes amizades, responsáveis por vazios e cheios em meu coração.
E, não menos importante, fica aqui um poema inicial, em homenagem a um grande homem, de muita coragem e pouca bola:

Cripto

- O quê??
- Criptorquidismo, minha senhora. Unilateral.
- Como assim "unilateral"?
- A ausência foi constatada em apenas um lado.
- ...
- ...
- Seja franco, doutor. Meu filho é normal?
- ...
(VV, 1/03/07)