segunda-feira, 11 de abril de 2016

O dia de me ir embora.

A última noite sempre me lembra que eu não moro aqui.
Que eu me mudei daqui.
Do que deixei aqui.
Do que perdi, do que parti.
Me lembra sempre que não sou daqui.

Sempre a última noite que eu passo aqui,
Lembra-me sempre da passividade com que vivo
- caso fosse ela'lgum mal -
disfarçada, ela, em improviso.

Me lembra sempre que eu ainda vivo
a compridez de Murilo Mendes.

E a hora de ir m'embora,
no dia de me ir embora,
me lembra sempre que pra sempre eu volto.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Postagem literal.

Pra todo mundo que acha que o mundo faz sentido:
eu escrevi esse texto dando uma cagada.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Etmonet!

"And I am not frightened of dying. Any time will do, I don't mind. Why should I be frightened of dying? There's no reason for it — you've got to go sometime".
Ela criou, aos poucos, um mouse pad feito de papel cheio de frases e pensamentos escritos, tarada por letras que era.
Em uma de nossas conversas, mostrei esse trecho de "The Great Gig in the Sky". Destino certo: mouse pad.
Depois de algum tempo, eu ainda a provocava: "Mãe, que tristeza! Tira isso daí!". E ela ria. E cantarolava; pronúncia perfeita.
Hoje eu vejo que naquela hora, naquele dia, ela já tinha se decidido.
E foi, pro seu grande evento nos céus.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

BSB

Barulhentas formas amarelas, marcadas em vermelho e com gotas d'água, inscritas e suadas - algumas vezes uma em cima da outra. Pequenos e barulhentos suportes para gentes de todos os tipos - os suportes e as gentes -, em volta das formas, na proporção de quatro-para-uma.
Seres humanos e vaivém.
Aos poucos, são um-para-uma, os suportes e as formas amarelas barulhentos.
Entre sons ininteligíveis e gostos miscíveis, se pesca uma nesga de compreensão. Se veio do fundo, os da frente se viram e riem; um complemento, talvez, e mais risos - ato contínuo. Se veio da frente, este se vira (feito um maestro ao fim do espetáculo) e recebe a altiva glória, a máxima glória, a glória da aceitação. Não há espaço para bolas fora; não aqui.
Os sons evoluem, os rostos mudam - nem todos...
...e o torcicolo rouba o show.
Chega o caldo de feijão.
"A saideira, a conta, tchau."

É um boteco, mas poderia muito bem ser o Congresso.


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americanus (ou: O Poema que Poderia Ter Sido e que Não Foi)

O caldo feio, frio e rosa
(feito um porco processado)
com a ajuda do remédio dosado
Me seduziu com sua rala prosa.

É o efeito super-man,
a cura além do alcance.
"Ingerindo um Helmiben,
não há mal que me balance."

A resposta vem a cavalo,
galopando um trote insosso
em minha pele, em meu osso,
o Necator tem regalo.

"Num cardápio limitado,
o caldo pálido é impulsivo:


(poema incompleto porque fui ver SFIV no fliper da esquina. Ou: poema incompleto porque a inspiração se foi com a primeira rufada da trombeta)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Um dia perfeito.

O copo de uísque você enche com vinho. Aquela cor linda toma conta do seu corpo, e o aroma embebeda seu espírito.
Você coloca uma roupa leve, sai de casa leve, desce pela escada e, já na rua, deixa que a bicicleta o leve.
Parecendo nascido para aquilo, você pedala, cheio de ritmo, suor, torpor, arfar, pedala, pedala, pedala...
Passa o porto, passa o peixe, passa o farol, o velho, a moça, a onda, a terra, o ar, o mar.
Encosta, uma hora depois, sua bicicleta ao banco; à frente, o mar.
Embevecido agora em um sentimento incrível de completude, toma aquela ducha e sente a água gelada e viva brigando com o suor quente e vivo, disputando cada centímetro de sua face, de seus braços, de sua vida.
Volta ao banco.
Fita o oceano, extasiado, fita o encontro de céu e mar, de corpo e alma, de terrestre e etéreo.
Um turbilhão de imagens e lembranças e pensares lhe invade a cabeça, e você só se dá conta disso quando sente um murro, um tranco, um sopro na alma. Mas não sabe nem o que nem porque está pensando.
O dia é perfeito.
Caem as primeiras gotas.
A luta continua, suor e água, suor e água e chuva e vida.
Caem mais gotas, chove mais. Chove muito, chove lindo.
Você levanta, pega a bicicleta, suspira aliviado, vivo, e pensa, em um segundo, em todos que ama.
Pedala, pedala, pedala, contemplando o asfalto, o prédio, a torre de chope, o Itaú, a Goiás, o São José, e chega em casa e, enquanto pensa em cada palavra, revive cada momento e fica triste em não ser capaz de descrever cada sensação com perfeição.
Perfeição. Um dia perfeito.