quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Um dia perfeito.

O copo de uísque você enche com vinho. Aquela cor linda toma conta do seu corpo, e o aroma embebeda seu espírito.
Você coloca uma roupa leve, sai de casa leve, desce pela escada e, já na rua, deixa que a bicicleta o leve.
Parecendo nascido para aquilo, você pedala, cheio de ritmo, suor, torpor, arfar, pedala, pedala, pedala...
Passa o porto, passa o peixe, passa o farol, o velho, a moça, a onda, a terra, o ar, o mar.
Encosta, uma hora depois, sua bicicleta ao banco; à frente, o mar.
Embevecido agora em um sentimento incrível de completude, toma aquela ducha e sente a água gelada e viva brigando com o suor quente e vivo, disputando cada centímetro de sua face, de seus braços, de sua vida.
Volta ao banco.
Fita o oceano, extasiado, fita o encontro de céu e mar, de corpo e alma, de terrestre e etéreo.
Um turbilhão de imagens e lembranças e pensares lhe invade a cabeça, e você só se dá conta disso quando sente um murro, um tranco, um sopro na alma. Mas não sabe nem o que nem porque está pensando.
O dia é perfeito.
Caem as primeiras gotas.
A luta continua, suor e água, suor e água e chuva e vida.
Caem mais gotas, chove mais. Chove muito, chove lindo.
Você levanta, pega a bicicleta, suspira aliviado, vivo, e pensa, em um segundo, em todos que ama.
Pedala, pedala, pedala, contemplando o asfalto, o prédio, a torre de chope, o Itaú, a Goiás, o São José, e chega em casa e, enquanto pensa em cada palavra, revive cada momento e fica triste em não ser capaz de descrever cada sensação com perfeição.
Perfeição. Um dia perfeito.